Embora a RDA de 0.8g/kg/dia possa ser
suficiente para as necessidades básicas (mínimas)
para quase toda a população (97.5%) saudável
acima dos 19 anos (e poderá ser uma subestimação em 30-50% (35,36)), essa quantidade
de proteína pode ser insuficiente face em populações atléticas.
Durante o exercício há um aumento da oxidação de aminoácidos (1-5% do custo energético total do exercício), aumento de catabolismo, e um aumento na síntese proteica muscular após danos musculares como consequência do exercício (1,2,3). Outra preocupação é a também a capacidade de recuperação reduzida (1,4).
Outros benefícios de uma ingestão proteica maior
(>0.8g/kg/dia) podem também ser uma melhor
utilização energética e aumento de massa magra (1,5). Várias publicações
científicas indicam uma necessidade de ingestão proteica maior que 0.8g/kg/dia,
independentemente do modo de exercício e estatuto de treino (1,6-13).
Factores como ingestão energética,
intensidade e duração de exercício, experiência de treino, e possivelmente o
sexo podem também influenciar as necessidades proteicas (14-22).
Resistência
A
ingestão proteica recomendada para atletas de resistência vai desde 1.0g/kg
to 1.6g/kg por dia [1,3,5,23,24], dependendo da intensidade de duração do
exercício, tal como a experiência de treino. Por exemplo, tendo tem conta a
maior intensidade/exigência e maior oxidação de aminoácidos de cadeia
ramificada (BCAAs), um atleta de elite irá necessitar de uma ingestão proteica
mais perto do valor mais alto recomendado (1.6g/kg/dia).
Força/potência
Para estes atletas é recomendado uma
ingestão um pouco maior que para atletas de resistência. Estas recomendações
variam entre 1.6 e 2.0 g/kg/dia (1,2,11-13),
embora alguma pesquisa sugira que as necessidades baixem com a experiência de
treino devido a adaptações biológicas que aumentam a capacidade de retenção de
proteína (1,17).
Exercício intermitente
Para desportos intermitentes como futebol, basquetebol,
artes marciais mistas, etc, uma ingestão entre 1.4-1.7g/kg/dia é recomendada (1,25).
No geral, a ISSN recomenda uma ingestão
proteica entre 1.4-2.0 g/kg/dia.
Ingestão
proteica acima da RDA
É recorrente ser erradamente reportado pelos
media que uma ingestão crónica de proteína alta causa disfunção renal (26,27), aumento de risco de osteoporose por perda de cálcio, aumento de risco de doença cardiovascular e desidratação,
contudo essas alegações são infundadas
(para populações saudáveis). Aparte da possível desidratação, os potenciais
efeitos adversos são exagerados.
A literatura geralmente citada (quando é)
foi feita em animais ou em pacientes já
com doença renal pré-existente (27). Por exemplo, ingestão de proteína mais alta não está associada com
um declínio da função renal em mulheres com rins saudáveis (28). Dietas hiperproteicas não
parecem aumentar o risco de doença cardiovascular (29). Nenhum estudo
reportou danos hepáticos e renais em sujeitos saudáveis a consumirem uma dieta
hiperproteica, como por exemplo culturistas a consumirem 2.8g/kg/dia (30), nem em sujeitos a consumirem 3.4g/kg/dia durante 8 semanas (31,32).
Vegetarianos (geralmente com menos ingestão
proteica) e não vegetarianos têm a mesma função renal (23,24), e o mesmo ritmo
de deteorização progressiva na fisiologia renal ao longo do envelhecimento
(24).
Contudo é aconselhado prudência a
indivíduos com insuficiência renal
ligeira, porque alguns estudos epidemiológicos indicam que ingestão de
proteína pode estar relacionado com
a progressão de doença renal (21,26).
Em relação ao suposto risco de osteoporose,
estudos antigos sugeriram que um aumento da acidez na urina como consequência
de aumento de ingestão proteica estava associado com perda de cálcio dos ossos a
fim de lidar com a carga ácida.
Contudo, tais estudos foram limitados por amostras pequenas, erros
metodológicos, e o uso de elevadas doses de formas de proteína purificada (27). Sabe-se agora que os fostatos de
alimentos proteicos (e suplementos fortificados com cálcio e fósforo) negam esse
efeito.
Estudos mais recentes com isótopos de cálcio estáveis sugerem
agora que a fonte principal de cálcio
excretado na urina numa dieta hiperproteica é intestinal
(alimentação) e não da reabsorpção dos
ossos (29).
As populações mais susceptíveis a
osteoporose, como homens e mulheres idosas, devem consumir proteína acima do
actualmente recomendado (>0.8g/kg/dia) para optimizarem a massa óssea (28).
Idosos activos precisam de uma proteína ente 1.4-2.0g/kg/dia, e essa ingestão é
segura.
O único risco possível parece ser
desidratação devido ao ciclo de ureia ao processar o azoto da proteína, que faz
perder água. Por isso, atletas a consumirem proteína alta devem ter atenção à
hidratação.
Proteína acima do RDA podem melhorar a saciedade e ajudar na manutenção de peso e pode ajudar a prevenir sarcopenia no processo de envelhecimento (33).
Em relação a outros marcadores, uma revisão sistemática e meta-análise de 74 estudos experimentais controlados (RCTs) não observou efeitos significativos em colesterol total, lipoproteínas de baixa densidade, proteína C-reactiva, hbA1c, valores de glicemia em jejum e marcadores de função renal e óssea (34). Adicionalmente dietas hiperproteicas provavelmente melhoram a composição corporal, pressão arterial e triglicerídeos (34).
Proteína acima do RDA podem melhorar a saciedade e ajudar na manutenção de peso e pode ajudar a prevenir sarcopenia no processo de envelhecimento (33).
Em relação a outros marcadores, uma revisão sistemática e meta-análise de 74 estudos experimentais controlados (RCTs) não observou efeitos significativos em colesterol total, lipoproteínas de baixa densidade, proteína C-reactiva, hbA1c, valores de glicemia em jejum e marcadores de função renal e óssea (34). Adicionalmente dietas hiperproteicas provavelmente melhoram a composição corporal, pressão arterial e triglicerídeos (34).
Referências:
1. International Society of Sports Nutrition position stand: protein and
exercise. Bill Campbell1,
Richard B Kreider, Tim Ziegenfuss3, Paul La Bounty, Mike Roberts, Darren
Burke6, Jamie Landis7, Hector Lopez8 and Jose Antonio. Journal of the
International Society of Sports Nutrition 2007, 4:8
2. Joint Position Statement: nutrition and athletic performance. American
College of Sports Medicine, American Dietetic
Association, and Dietitians of Canada. Med Sci Sports Exerc 2000, 32(12):2130-2145.
3. Tarnopolsky M: Protein requirements for endurance athletes. Nutrition 2004, 20(7-8):662-668.
4. Kreider RB, Almada
AL, Antonio J, Broeder C, Earnest C, Greenwood M, Incledon T, Kalman DS,
Kleiner SM, Leutholtz B, Lowery LM, Mendel R, Stout JR,
Willoughby DS, Ziegenfuss TN: ISSN Exercise and Sport
Nutrition Review: Research and Recommendations. Journal of the International Society of Sports Nutrition 2004, 1(1):1-44.
5. Lemon PW: Beyond the zone: protein needs of active individuals. J Am Coll Nutr 2000, 19(5 Suppl):513S-521S.
6. Forslund AH,
El-Khoury AE, Olsson RM, Sjodin AM, Hambraeus L, Young VR: Effect of protein intake and physical activity on 24-h pattern and rate
of macronutrient utilization. Am J Physiol 1999, 276(5 Pt 1):E964-76.
7. Meredith CN, Zackin
MJ, Frontera WR, Evans WJ: Dietary protein requirements
and body protein metabolism in endurance trained men. J Appl Physiol 1989, 66(6):2850-2856.
8. Phillips SM, Atkinson
SA, Tarnopolsky MA, MacDougall JD: Gender differences in
leucine kinetics and nitrogen balance in endurance athletes. J Appl Physiol 1993, 75(5):2134-2141.
9. Lamont LS, Patel DG,
Kalhan SC: Leucine kinetics in endurance trained humans. J Appl Physiol 1990, 69(1):1-6.
10. Friedman JE, Lemon
PW: Effect of chronic endurance exercise on retention of dietary protein. Int J Sports Med 1989, 10(2):118-123.
11. Tarnopolsky MA,
Atkinson SA, MacDougall JD, Chesley A, Phillips S, Schwarcz HP: Evaluation of protein requirements for trained strength athletes. J Appl Physiol 1992, 73(5):1986-1995.
12. Lemon PW,
Tarnopolsky MA, MacDougall JD, Atkinson SA: Protein
requirements and muscle mass/strength changes during intensive training in
novice bodybuilders. J Appl Physiol 1992, 73(2):767-775.
13. Lemon PW: Protein and amino acid needs of the strength athlete. Int J Sport Nutr 1991, 1(2):127-145.
14. Lemon PWR.
Dietary protein requirements in athletes. Nutr Biochem 1997;8: 52-60.
15. Lemon PW.
Beyond the zone: protein needs of active individuals. I Am Coil Nutr 2000;19(5
Suppl):513S-521S.
16. Tipton KD,
Wolfe RR. Protein and amino acids for athletes. I Sports Sci 2004;22:65-79.
17. Rennie MI,
Tipton KD. Protein and amino acid metabolism during and after exercise and the
effects of nutrition. Annu Rev Nutr 2000;20:457-483.
18. Lemon PW.
Effect of exercise on protein requirements. I Sports Sci 1991;9 Spec No:53-70.
19. Lemon PW,
Proctor ON. Protein intake and athletic performance. Sports Med 1991;
12(5):313-325.
20. Rankin JW.
Role of protein in exercise. Clin Sports Med 1999;18(3):499-511.
21. Tarnopolsky
M. Protein requirements for endurance athletes. Nutrition 2004; 20(7-8):662-668.
22. Lambert CP,
Frank LL, Evans WJ. Macronutrient considerations for the sport of bodybuilding.
Sports Med 2004;34(5):317-327.
23. Meredith CN, Zackin
MJ, Frontera WR, Evans WJ: Dietary protein requirements
and body protein metabolism in endurancetrained men. J Appl Physiol 1989, 66(6):2850-2856.
24. Gaine PC, Pikosky
MA, Martin WF, Bolster DR, Maresh CM, Rodriguez NR: Level of
dietary protein impacts whole body protein turnover in trained males at rest. Metabolism 2006, 55(4):501-507.
25.Lemon PW: Protein requirements of soccer. J Sports Sci 1994, 12 Spec No:S17-22
26. Metges CC, Barth CA:
Metabolic consequences of a high dietary-protein intake in adulthood:
assessment of the available evidence. J Nutr 2000, 130(4):886-889.
27. Brenner BM, Meyer
TW, Hostetter TH: Dietary protein intake and the progressive
nature of kidney disease: the role of hemodynamically mediated glomerular
injury in the pathogenesis of progressive glomerular sclerosis in aging, renal
ablation, and intrinsic renal disease. N Engl J Med 1982, 307(11):652-659.
28. Knight EL, Stampfer
MJ, Hankinson SE, Spiegelman D, Curhan GC: The impact of
protein intake on renal function decline in women with normal renal function or
mild renal insufficiency. Ann Intern Med 2003, 138(6):460-467.
29. Hu FB,
Stampfer MJ, Manson )E, et a!. Dietary protein and risk of ischemic heart
disease in women. Am ) Clin Nutr 1999;70:221-227.
30. Poortmans
JR, Della lieux O. Do regular high protein diets have potential health risks on
kidney function in athletes? lnt) Sport Exerc Metab 2000;10(1):28-38.
31. Jose Antonio*, Anya
Ellerbroek, Tobin Silver, Steve Orris, Max Scheiner, Adriana Gonzalez and Corey
A Peacock. A high protein diet (3.4 g/kg/d) combined with a heavy
resistance training program improves body composition in healthy trained men
and women – a follow-up investigation. Journal of the
International Society of Sports Nutrition (2015) 12:39
32. Jose Antonio, Anya Ellerbroek, Tobin Silver, Leonel Vargas and Corey
Peacock. The effects of a high protein diet on indices of health
and body composition – a crossover trial in resistance-trained men. Journal
of the International Society of Sports Nutrition (2016) 13:3
33. Phillips,
S.M., Chevalier, S., and Leidy, H.J. 2016. Protein “requirements” beyond the
RDA: implications for optimizing health. Appl. Physiol. Nutr. Metab. 41(5):
34. Santesso N1, Akl EA, Bianchi M, Mente A,
Mustafa R, Heels-Ansdell D, Schünemann HJ. Effects of higher- versus lower-protein diets on
health outcomes: a systematic review and meta-analysis. Eur J Clin Nutr. 2012 Jul;66(7):780-8. doi: 10.1038/ejcn.2012.37. Epub 2012
Apr 18.
35. Elango R, Ball RO, Pencharz PB. Indicator amino acid oxidation: concept and
application. J Nutr. 2008 Feb;138(2):243-6
36. Paul B.
Pencharz, Rajavel Elango, and Robert R. Wolfe. Recent developments in
understanding protein needs – How much and what kind should we eat? Appl Physiol Nutr Metab. 2016 May;41(5):577-80