quarta-feira, 3 de agosto de 2016

Recomendações de Proteína para Exercício, e Ingestão Proteica acima da RDA



Embora a RDA de 0.8g/kg/dia possa ser suficiente para as necessidades básicas (mínimas) para quase toda a população (97.5%) saudável acima dos 19 anos (e poderá ser uma subestimação em 30-50% (35,36)), essa quantidade de proteína pode ser insuficiente face em populações atléticas.



Durante o exercício há um aumento da oxidação de aminoácidos (1-5% do custo energético total do exercício), aumento de catabolismo, e um aumento na síntese proteica muscular após danos musculares como consequência do exercício (1,2,3). Outra preocupação é a também a capacidade de recuperação reduzida (1,4).

Outros benefícios de uma ingestão proteica maior (>0.8g/kg/dia) podem também ser uma melhor utilização energética e aumento de massa magra (1,5). Várias publicações científicas indicam uma necessidade de ingestão proteica maior que 0.8g/kg/dia, independentemente do modo de exercício e estatuto de treino (1,6-13).

Factores como ingestão energética, intensidade e duração de exercício, experiência de treino, e possivelmente o sexo podem também influenciar as necessidades proteicas (14-22).

Resistência

A ingestão proteica recomendada para atletas de resistência vai desde 1.0g/kg to 1.6g/kg por dia [1,3,5,23,24], dependendo da intensidade de duração do exercício, tal como a experiência de treino. Por exemplo, tendo tem conta a maior intensidade/exigência e maior oxidação de aminoácidos de cadeia ramificada (BCAAs), um atleta de elite irá necessitar de uma ingestão proteica mais perto do valor mais alto recomendado (1.6g/kg/dia).

Força/potência

Para estes atletas é recomendado uma ingestão um pouco maior que para atletas de resistência. Estas recomendações variam entre 1.6 e 2.0 g/kg/dia (1,2,11-13), embora alguma pesquisa sugira que as necessidades baixem com a experiência de treino devido a adaptações biológicas que aumentam a capacidade de retenção de proteína (1,17).

Exercício intermitente

Para desportos intermitentes como futebol, basquetebol, artes marciais mistas, etc, uma ingestão entre 1.4-1.7g/kg/dia é recomendada (1,25).

No geral, a ISSN recomenda uma ingestão proteica entre 1.4-2.0 g/kg/dia.


Ingestão proteica acima da RDA

É recorrente ser erradamente reportado pelos media que uma ingestão crónica de proteína alta causa disfunção renal (26,27), aumento de risco de osteoporose por perda de cálcio, aumento de risco de doença cardiovascular e desidratação, contudo essas alegações são infundadas (para populações saudáveis). Aparte da possível desidratação, os potenciais efeitos adversos são exagerados.

A literatura geralmente citada (quando é) foi feita em animais ou em pacientes já com doença renal pré-existente (27). Por exemplo, ingestão de proteína mais alta não está associada com um declínio da função renal em mulheres com rins saudáveis (28). Dietas hiperproteicas não parecem aumentar o risco de doença cardiovascular (29). Nenhum estudo reportou danos hepáticos e renais em sujeitos saudáveis a consumirem uma dieta hiperproteica, como por exemplo culturistas a consumirem 2.8g/kg/dia (30), nem em sujeitos a consumirem 3.4g/kg/dia durante 8 semanas (31,32).

Vegetarianos (geralmente com menos ingestão proteica) e não vegetarianos têm a mesma função renal (23,24), e o mesmo ritmo de deteorização progressiva na fisiologia renal ao longo do envelhecimento (24). 

Contudo é aconselhado prudência a indivíduos com insuficiência renal ligeira, porque alguns estudos epidemiológicos indicam que ingestão de proteína pode estar relacionado com a progressão de doença renal (21,26).

Em relação ao suposto risco de osteoporose, estudos antigos sugeriram que um aumento da acidez na urina como consequência de aumento de ingestão proteica estava associado com perda de cálcio dos ossos a fim de lidar com a carga ácida. 

Contudo, tais estudos foram limitados por amostras pequenas, erros metodológicos, e o uso de elevadas doses de formas de proteína purificada (27). Sabe-se agora que os fostatos de alimentos proteicos (e suplementos fortificados com cálcio e fósforo) negam esse efeito.

Estudos mais recentes com isótopos de cálcio estáveis sugerem agora que a fonte principal de cálcio excretado na urina numa dieta hiperproteica é intestinal (alimentação) e não da reabsorpção dos ossos (29).

As populações mais susceptíveis a osteoporose, como homens e mulheres idosas, devem consumir proteína acima do actualmente recomendado (>0.8g/kg/dia) para optimizarem a massa óssea (28). Idosos activos precisam de uma proteína ente 1.4-2.0g/kg/dia, e essa ingestão é segura.

O único risco possível parece ser desidratação devido ao ciclo de ureia ao processar o azoto da proteína, que faz perder água. Por isso, atletas a consumirem proteína alta devem ter atenção à hidratação. 

Proteína acima do RDA podem melhorar a saciedade e ajudar na manutenção de peso e pode ajudar a prevenir sarcopenia no processo de envelhecimento (33). 

Em relação a outros marcadores, uma revisão sistemática e meta-análise de 74 estudos experimentais controlados (RCTs) não observou efeitos significativos em colesterol total, lipoproteínas de baixa densidade, proteína C-reactiva, hbA1c, valores de glicemia em jejum e marcadores de função renal e óssea (34). Adicionalmente dietas hiperproteicas provavelmente melhoram a composição corporal, pressão arterial e triglicerídeos (34).


Referências:

1. International Society of Sports Nutrition position stand: protein and exercise. Bill Campbell1, Richard B Kreider, Tim Ziegenfuss3, Paul La Bounty, Mike Roberts, Darren Burke6, Jamie Landis7, Hector Lopez8 and Jose Antonio. Journal of the International Society of Sports Nutrition 2007, 4:8
2. Joint Position Statement: nutrition and athletic performance. American College of Sports Medicine, American Dietetic
Association, and Dietitians of Canada. Med Sci Sports Exerc 2000, 32(12):2130-2145.
3. Tarnopolsky M: Protein requirements for endurance athletes. Nutrition 2004, 20(7-8):662-668.
4. Kreider RB, Almada AL, Antonio J, Broeder C, Earnest C, Greenwood M, Incledon T, Kalman DS, Kleiner SM, Leutholtz B, Lowery LM, Mendel R, Stout JR, Willoughby DS, Ziegenfuss TN: ISSN Exercise and Sport Nutrition Review: Research and Recommendations. Journal of the International Society of Sports Nutrition 2004, 1(1):1-44.
5. Lemon PW: Beyond the zone: protein needs of active individuals. J Am Coll Nutr 2000, 19(5 Suppl):513S-521S.
6. Forslund AH, El-Khoury AE, Olsson RM, Sjodin AM, Hambraeus L, Young VR: Effect of protein intake and physical activity on 24-h pattern and rate of macronutrient utilization. Am J Physiol 1999, 276(5 Pt 1):E964-76.
7. Meredith CN, Zackin MJ, Frontera WR, Evans WJ: Dietary protein requirements and body protein metabolism in endurance trained men. J Appl Physiol 1989, 66(6):2850-2856.
8. Phillips SM, Atkinson SA, Tarnopolsky MA, MacDougall JD: Gender differences in leucine kinetics and nitrogen balance in endurance athletes. J Appl Physiol 1993, 75(5):2134-2141.
9. Lamont LS, Patel DG, Kalhan SC: Leucine kinetics in endurance trained humans. J Appl Physiol 1990, 69(1):1-6.
10. Friedman JE, Lemon PW: Effect of chronic endurance exercise on retention of dietary protein. Int J Sports Med 1989, 10(2):118-123.
11. Tarnopolsky MA, Atkinson SA, MacDougall JD, Chesley A, Phillips S, Schwarcz HP: Evaluation of protein requirements for trained strength athletes. J Appl Physiol 1992, 73(5):1986-1995.
12. Lemon PW, Tarnopolsky MA, MacDougall JD, Atkinson SA: Protein requirements and muscle mass/strength changes during intensive training in novice bodybuilders. J Appl Physiol 1992, 73(2):767-775.
13. Lemon PW: Protein and amino acid needs of the strength athlete. Int J Sport Nutr 1991, 1(2):127-145.
14. Lemon PWR. Dietary protein requirements in athletes. Nutr Biochem 1997;8: 52-60.
15. Lemon PW. Beyond the zone: protein needs of active individuals. I Am Coil Nutr 2000;19(5 Suppl):513S-521S.
16. Tipton KD, Wolfe RR. Protein and amino acids for athletes. I Sports Sci 2004;22:65-79.
17. Rennie MI, Tipton KD. Protein and amino acid metabolism during and after exercise and the effects of nutrition. Annu Rev Nutr 2000;20:457-483.
18. Lemon PW. Effect of exercise on protein requirements. I Sports Sci 1991;9 Spec No:53-70.
19. Lemon PW, Proctor ON. Protein intake and athletic performance. Sports Med 1991; 12(5):313-325.
20. Rankin JW. Role of protein in exercise. Clin Sports Med 1999;18(3):499-511.
21. Tarnopolsky M. Protein requirements for endurance athletes. Nutrition 2004; 20(7-8):662-668.
22. Lambert CP, Frank LL, Evans WJ. Macronutrient considerations for the sport of bodybuilding. Sports Med 2004;34(5):317-327.
23. Meredith CN, Zackin MJ, Frontera WR, Evans WJ: Dietary protein requirements and body protein metabolism in endurancetrained men. J Appl Physiol 1989, 66(6):2850-2856.
24. Gaine PC, Pikosky MA, Martin WF, Bolster DR, Maresh CM, Rodriguez NR: Level of dietary protein impacts whole body protein turnover in trained males at rest. Metabolism 2006, 55(4):501-507.
25.Lemon PW: Protein requirements of soccer. J Sports Sci 1994, 12 Spec No:S17-22
26. Metges CC, Barth CA: Metabolic consequences of a high dietary-protein intake in adulthood: assessment of the available evidence. J Nutr 2000, 130(4):886-889.
27. Brenner BM, Meyer TW, Hostetter TH: Dietary protein intake and the progressive nature of kidney disease: the role of hemodynamically mediated glomerular injury in the pathogenesis of progressive glomerular sclerosis in aging, renal ablation, and intrinsic renal disease. N Engl J Med 1982, 307(11):652-659.
28. Knight EL, Stampfer MJ, Hankinson SE, Spiegelman D, Curhan GC: The impact of protein intake on renal function decline in women with normal renal function or mild renal insufficiency. Ann Intern Med 2003, 138(6):460-467.
29. Hu FB, Stampfer MJ, Manson )E, et a!. Dietary protein and risk of ischemic heart disease in women. Am ) Clin Nutr 1999;70:221-227.
30. Poortmans JR, Della lieux O. Do regular high protein diets have potential health risks on kidney function in athletes? lnt) Sport Exerc Metab 2000;10(1):28-38.
31. Jose Antonio*, Anya Ellerbroek, Tobin Silver, Steve Orris, Max Scheiner, Adriana Gonzalez and Corey A Peacock. A high protein diet (3.4 g/kg/d) combined with a heavy resistance training program improves body composition in healthy trained men and women a follow-up investigation. Journal of the International Society of Sports Nutrition (2015) 12:39
32. Jose Antonio, Anya Ellerbroek, Tobin Silver, Leonel Vargas and Corey Peacock. The effects of a high protein diet on indices of health and body composition – a crossover trial in resistance-trained men. Journal of the International Society of Sports Nutrition (2016) 13:3

33. Phillips, S.M., Chevalier, S., and Leidy, H.J. 2016. Protein “requirements” beyond the RDA: implications for optimizing health. Appl. Physiol. Nutr. Metab. 41(5):
34. Santesso N1, Akl EA, Bianchi M, Mente A, Mustafa R, Heels-Ansdell D, Schünemann HJ. Effects of higher- versus lower-protein diets on health outcomes: a systematic review and meta-analysis. Eur J Clin Nutr. 2012 Jul;66(7):780-8. doi: 10.1038/ejcn.2012.37. Epub 2012 Apr 18.
35. Elango R, Ball RO, Pencharz PB. Indicator amino acid oxidation: concept and application. J Nutr. 2008 Feb;138(2):243-6
36. Paul B. Pencharz, Rajavel Elango, and Robert R. Wolfe. Recent developments in understanding protein needs – How much and what kind should we eat? Appl Physiol Nutr Metab. 2016 May;41(5):577-80